Comemora-se hoje o 39.º Dia Mundial do Ambiente e o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) tem como temática deste ano “Economia Verde: estás incluído?”. A pergunta pode ser colocada a dois níveis: ao nível particular de cada um de nós, mas, sobretudo, ao nível de cada um dos nossos países e das nossas economias. O que lhe parece? Estará a economia portuguesa incluída nas Economias Verdes?
Faz hoje também um ano que decorreram eleições legislativas em Portugal, as primeiras a que o PAN concorreu e obteve 57 849 votos — um excelente trabalho para um partido nascido em Janeiro do mesmo ano — e no dia 21 de Junho o actual governo tomou posse. Durante o último ano o emprego diminuiu, a miséria aumentou, as assimetrias sociais acentuaram-se, os trabalhadores perderam direitos, o chefe do governo presta vassalagem à Alemanha e à Troika, a Europa definha e do Ambiente nem sequer se ouve falar. O que os nossos governantes parecem não ter ainda percebido é que cuidar do ambiente e promover o desenvolvimento de economias verdes não é mais um problema que eles têm de enfrentar, é a resolução para os problemas que se têm vindo a criar. O legado europeu não é a zona euro nem a crematística do establishment económico neoliberal dos mercados mundiais a que a Europa teima em se sujeitar, por falta de iniciativa, mas também porque essa iniciativa não é bem vista nem serve os interesses e as negociatas dos que nos governam a nível nacional e europeu. O legado europeu é o da democracia, da solidariedade igualitária, dos direitos humanos e dos trabalhadores, das energias renováveis da protecção ambiental e, no que a essa luta diz respeito, não nos esqueçamos que “Somos todos Gregos”. A batalha que a Europa trava não é Grécia contra a Alemanha, não é o Sul contra o Norte; é uma batalha entre o desenvolvimento de uma economia verde sustentada e a crematística. As corporações multinacionais têm espalhado os seus tentáculos e vindo a tomar lugares de destaque no contexto dos governantes europeus. Não é uma luta entre povos europeus, mas uma luta que reclama uma economia baseada não no capital financeiro, mas nos recursos e na valorização do mundo não humano. O capital que tem valor nas sociedades em transformação, não é o capital financeiro, mas o capital cultural.
Para Portugal queremos um papel mais activo, o herege que promove o desenvolvimento de ideias alternativas à acriticamente aceite ideologia hegemónica. O Portugal europeu mas, também, o Portugal universal que reconhece e assume a sua cultura de miscigenação como uma mais-valia na construção de um mundo novo. Portugal é Europa, mas é também América, África e Ásia. Conversemos com o Brasil, Angola, Moçambique, Timor, mas também com o Equador e a Bolívia que recentemente reconheceram, nas suas constituições, direitos ao mundo natural idênticos aos direitos humanos. Sejamos também Índia que ensinou como se pode mudar o mundo através da não-violência. Escutemos os animais e as árvores, as florestas e os desertos, os rios e as montanhas, os lagos e os oceanos. Saibamos aprender com eles como é possível viver em harmoniosa simbiose e abandonar a sanguinária e exploratória forma de vida.
Queremos que Portugal esteja na linha da frente na construção de um mundo onde os sistemas económicos não visem a acumulação de riqueza, mas antes reconheçam que a riqueza é produzida por todos, humanos e não-humanos, pessoas, animais e natureza; uma riqueza que provém da diversidade e das relações de respeito mútuo. Só este tipo de economia merece o apelido de verde e esta é a forma de não só Portugal e os portugueses serem incluídos, mas do estabelecimento do comprometimento dos terráqueos com a Terra.